terça-feira, 15 de março de 2011

Funk Carioca - (Estreiando a) Sessão sem Foco!

Quem nunca se deparou com essa situação: Você entra no ônibus, lotação ou até mesmo metrô e vai em direção ao fundo do veículo procurando um "confortável" lugar para se sentar. Como de costume você não encontra e dá mais uma olhada pra conferir se realmente todos os assentos estão ocupados, quando, de repente, quase como um soco na cara você percebe aquele som... Será uma alucinação musical?... Será um colapso nervoso repentino?... Não, meu caro leitor, é um funkeiro!
Sentado em duas poltronas com seu boné de tricô azul bebê, blusão escrito "Onbongo Staff" e calça de veludo verde musgo da Cyclone. Se fosse só isso, tudo bem, mas não! O funkeiro nunca se cansa de ser inconveniente. Como se fosse um pré-requisito para ser chato o funkeiro carrega, impreterivelmente, um Motorola V3 pendurado em seu pescoço tocando no mais alto volume "Parrrapapapa papa papa..papa" O motivo? Eu tento explicar...
Segundo estudiosos, o funk carioca - que nada se parece com o funk americano - surgiu nos anos 80 nas periferias do Rio de Janeiro em forma de baile, a priori em lugares fechados, posteriormente tomando as ruas e se tornando palco de disputas entre equipes. Dali sagravam-se as melhores aparelhagens de som, os melhores Dj's e os mais fiéis componentes das equipes.
Mas não,... ainda não tinha todo esse apelo sexual. Na época a maior influência era o rap, ou melô como era chamado, o freestyle (ato de improvisar rimas) e o Miami Bass. E é aqui que começa a pornografia sonora. Miami Bass, ou "som de Miami", é um tipo de hip-hop muito popular na gringa nos anos 80 e 90, derivado do Eletro (que deu base a TODOS funk's cariocas!) e que levava em suas letras um conteúdo explicitamente sexual.
A popularização do funk entre as comunidades cresceu, os bailes foram ficando cada vez maiores e o funk foi, cada vez mais, sofrendo preconceito. Como todos se lembram nos anos 90 os bailes funk se tornaram famosos por causa dos "corredores", espaço que se abria no meio baile onde as galeras de diversas comunidades se dividiam em dois grupos, os lados A e B, resultando quase sempre em brigas e algumas vezes em vítimas fatais. A ameaça constante de proibição dos bailes no Rio e as mortes causadas levaram à uma grande conscientização funkeira, que resultou em músicas como "som de preto" e o "funk melody", seguindo a linha do funk melody americano com letras mais românticas e batidas mais calmas. Como referência a esse movimento temos, nada mais nada menos que o glorioso, Latino, pra se ver a beleza que era o Funk Carioca em meados de 1995! (sic)
Essa conscientização e o novo "funk melody" fizeram com que o funk "descesse o morro" e começasse a tocar em rádios, nessa época surgem Claudinho e Bochecha e outros. Paralelo a isso, o funk ainda era uma música da comunidade carente do Rio e o tráfico se apoderava desse "veículo informativo" para exaltar suas conquistas e provocar inimigos, os "alemão". Nascia assim o "proibidão" que posteriormente ganharia cada vez mais conotações sexuais, até chegarmos à Tati Quebra-Barraco, que é o fim da picada, literalmente. (sic)
Durante os anos de 2007/08 o Rio de Janeiro movimentou cerca de R$ 10 milhões por mês, só com o Funk!
Por fim, como todos sabem, de novo, o funk desceu de vez dos morros, dominou todas as classes sociais do país e sofreu associação com putaria, drogas e armas. (Qualquer semelhança com a política é mera coincidência!)
Só pra constar, em Setembro de 2009 a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou projeto definindo o funk como movimento cultural e musical de caráter popular.
Portanto, meu queridíssimo leitor, respeite o funkeiro! Porque ele é parte integrante e ativa de um "movimento cultural e musical de caráter popular" e seu trabalho é, mesmo que inconscientemente, infestar a sociedade com suas ideologias politicamente incorretas!

Participe você também da campanha: "Dê um fone de ouvido a um Funkeiro e faça um ônibus feliz!"

Um comentário: